Pós-graduação

Reflexões sobre a pós-graduação no Brasil

Prof. Rafael Gabler Gontijo

7/17/20242 min read

A pós-graduação no Brasil é um lugar confuso para mim. Apesar de ser filho desse sistema e ter feito tanto meu Mestrado quanto meu Doutorado em uma Universidade Federal Brasileira e atuar como membro de um Programa de Pós-graduação dentro desse mesmo sistema há mais de 10 anos, ainda me sinto um estranho no ninho dentro da Pós-graduação Brasileira.

O financiamento da Capes, apesar de fundamental, é ainda bastante precário. Suas bolsas de Mestrado e Doutorado são irrisórias diante do piso de um Engenheiro recém formado por exemplo. Isso dificulta a manutenção de alunos de ponta na pós-graduação Brasileira, uma vez que os salários pagos pela iniciativa privada são muito mais atrativos que as bolsas pagas pela Capes.

Ao mesmo tempo, os critérios de avaliação da Capes miram em patamares de excelência irreais de países que vivem uma cultura totalmente diferente da nossa. Dizem que um programa nota 7 equivale ao nível de programas de Universidades como Harvard e MIT e todos sabemos que apesar de termos cientistas brilhantes em nossas Universidades, não temos ainda um único centro de pesquisa no Brasil que tenha o peso dessas instituições.

As notas atribuídas pela Capes aos programas mexem com algo muito perigoso e endemicamente desbalanceado nas instituições de ensino superior Brasileiras: o ego de seus agentes. Nesse cenário passamos a pensar muito mais em quantidade do que qualidade.

Por que passar 5 anos escrevendo um artigo com zelo e cuidado se podemos escrever 5 artigos às pressas em 1 ano? Para que escrever o próprio artigo se podemos atuar como gestores acadêmicos e colocar os alunos para escreverem os papers? Se um paper com um único aluno vale o mesmo que um paper com 10 colaboradores, para que ter mais trabalho fazendo a atividade fim se podemos focar nas parcerias e acordos políticos para termos uma rede de pessoas que escrevem os artigos e colocam o nosso nome? Como definir indicadores que favoreçam aqueles que se dedicam à atividade fim se os comitês que definem os indicadores são formados por aqueles que se especializaram na arte de jogar o jogo?

Depois de um tempo o prazer por cada nova publicação vai durando cada vez menos. É como uma droga viciante que já não causa mais efeito. Quem tem 30 artigos quer ter 40, quem tem 40 quer ter 50 e por aí vai.

Diante desse cenário sinto que o antídoto para manter a chama acesa consiste em reaprender a celebrar nossas pequenas conquistas e tentar ter prazer no processo, pois o resultado é sempre efêmero e a cobrança nunca tem fim.

Refletindo sobre essas questões decidi gravar um vídeo pro meu canal contando a história de um artigo que publiquei recentemente numa revista internacional da área de Transferência de Calor como uma forma de celebração de um esforço que durou alguns anos e que culminou nessa publicação.

Segue o link do vídeo caso se interessem 👇🏻👇🏻👇🏻

https://youtu.be/NMvz9cP2cqc

Um abraço!

Prof. Rafael Gabler Gontijo